Dia 18 de agosto é o Dia Mundial da Escalada, mas os escaladores da região dos Pireneus não andam tendo muito o que comemorar.
Isso acontece porque o Parque dos Pireneus é o local mais utilizado para a prática de escalada da região e, por conta do horário restrito de funcionamento, os atletas, que preferem o período noturno para escalar, estão sendo prejudicados.
O presidente da Associação dos Escaladores da Serra dos Pireneus, Lucas Mesquita, conta que a modalidade é praticada no parque praticamente desde sua fundação:
“O parque foi fundado em 1989 e, apenas dois anos depois, os escaladores começaram a explorar a escalada dentro dele (…). Com o passar dos anos, construíram o que hoje é o pico da América Latina com maior número de linhas de escalada, um dos maiores do mundo.”
Há vários meses, no entanto, os atletas não estão podendo usufruir do local.
Por conta da pandemia do Covid-19, o Parque dos Pireneus ficou fechado por quase três meses. Foi reaberto ao público no dia 25 de maio, porém com novas regras de funcionamento: de terça a domingo, das 08h às 17h, sendo a entrada permitida somente até às 15h.
Novo horário de funcionamento do Parque dos Pireneus prejudica escaladores
Segundo Lucas, é muito difícil escalar durante o dia no Cerrado por conta das características climáticas. Ele explica que a escalada em boulder (modalidade da escalada em rocha, praticada sem o uso dos equipamentos de segurança convencionais como cordas e mosquetões), é feita majoritariamente no período noturno, que é quando está mais frio e as agarras ficam mais aderentes.
“O cerrado rupestre não possui um grande volume de vegetação que faça sombra nas pedras, então as pedras ficam muito expostas ao sol (…) e os atletas sentem muito calor, o que atrapalha a aderência da pele na rocha. Por isso a escalada sempre dá preferência ao período noturno.”
Lucas afirma que a proibição de uso do parque fora do horário permitido não levou em conta as questões culturais da região:
“Essa proibição ficou mais rígida durante a pandemia em todos os parques Estaduais, mas não levaram em conta as questões culturais de cada parque. Aqui mesmo, já é uma cultura da região utilizar o parque no período noturno. (…) Outros esportes como mountain bike, também utilizariam o horário noturno. Os guias que sempre trouxeram pessoas para observar os astros a noite também não estão podendo.”
Ele diz ainda que o fechamento do local às 17h prejudica a evolução dos atletas da região em um esporte que está cada vez mais em ascensão.
A escalada foi incluída recentemente como uma das modalidades olímpicas. De acordo com Lucas, por falta de investimento, não houve escaladores brasileiros disputando medalhas na Olimpíada de Tóquio 2020. Mas afirma que a região tem grande possibilidade de ser um berço para atletas olímpicos:
“Nós moramos do lado de um dos maiores picos de boulder do mundo, então aqui ainda vão surgir atletas de nível olímpico.”
Lucas Mesquita concorda que existe uma questão de preservação ecológica que deve ser respeitada, mas que o uso noturno para prática de esportes não prejudica o parque.
“Não há estudos que mostram o impacto da escalada, que é um esporte de baixo impacto, no período noturno, como algo que realmente vai afetar de fato o ecossistema. Até porque no fim de semana não tem um contingente limite, então o parque fica lotado de várias pessoas, não de escaladores em si, mas de turistas, ciclistas…”
Escaladores abrem petição para ter livre acesso ao Parque
De acordo com a escaladora Ana Clara Lima, os atletas da região vão protocolar uma petição pública nas três prefeituras que fazem limite no parque, sendo elas Cocalzinho, Corumbá e Pirenópolis.
Já são quase 800 assinaturas apoiando o livre acesso dos escaladores ao Parque Estadual dos Pireneus. Clique aqui para ter acesso ao abaixo-assinado.
Lucas afirma que é uma questão de administração do parque, de ter funcionários disponíveis para liberar o acesso no período da noite. Mas afirma que, ainda que isso não seja possível, também não seria impedimento para os atletas:
“A escalada, que é um esporte de mínimo impacto ambiental, vem sendo praticada nos últimos 20 anos sem nenhum tipo de auxílio ou funcionário, ninguém observando nada, nem prestando algum tipo de socorro, caso necessário. Então os escaladores estão organizados o suficiente para conseguirem se manter dentro do parque no horário noturno mesmo que não tenha nenhum tipo de assistência do estado.”
Ele cita que no parque da Chapada dos Veadeiros os atletas já são permitidos de usufruir da área após as 18h, quando o local fecha para visitação:
“Está sendo feito o cadastro de voluntários por site e eles podem acessar a área do parque fora do horário normal de visitação para escalar, para abrir novas linhas, isso tudo com o amparo jurídico da instrução normativa da ICMbio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) fez sobre a escalada”.
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